O que é economia compartilhada?
Se me pedissem para resumir o atual momento econômico, eu usaria apenas três termos: tecnologia da informação e comunicação (TIC), experiência do usuário (UX, da sigla em inglês) e compartilhamento. As grandes mudanças causadas pelas TICs, em grande parte com características disruptivas, fizeram com que surgisse uma série de modelos de negócio inovadores com foco nas necessidades dos consumidores do século XXI. Nesse sentido, a UX, que objetiva criar uma percepção positiva do usuário em relação a um produto ou serviço, tem inspirado as organizações a buscar constante inovação e adaptação em um mundo cada vez mais competitivo. Assim chegamos ao conceito de “economia compartilhada”, que, nos últimos anos, tornou-se um dos termos mais comentados e discutidos por profissionais das mais diversas áreas.
A economia compartilhada se baseia no princípio “reduza, reuse, recicle, repare e redistribua”. Assim, os bens e serviços são compartilhados entre os consumidores, usando ou não um intermediário por meio das TICs. Isso significa que você pode ter acesso a um produto ou serviço de outrem, de maneira eficiente, colaborativa e econômica. Em 2018 foi realizada uma pesquisa em todas as capitais brasileiras pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), a qual mostrou que cerca de 89% dos entrevistados já experimentaram algum serviço baseado na economia compartilhada.
Usando como exemplo o transporte, vemos que, na maioria dos casos, as pessoas não precisam essencialmente de um veículo, mas de chegar a seu destino. Logo, em muitos casos, não faz sentido comprar um automóvel, considerando os custos envolvidos. Serviços como o Uber e o 99 Taxis são exemplos de como as pessoas podem ter acesso a um veículo sem a necessidade de comprar um. Assim, aquelas que possuem automóveis podem ser motoristas em tempo integral ou parcial (tempo livre) ou, ainda, alugar seu carro e, assim, conseguir uma renda extra. Há também serviços de carona compartilhada ou carona solidária, como o BlaBlaCar, em que viajantes recorrentes ou intermitentes oferecem carona com o objetivo de reduzir custos da viagem.
A economia compartilhada se baseia no princípio “reduza, reuse, recicle, repare e redistribua”
A economia compartilhada também impacta o turismo e o setor hoteleiro. Atualmente é possível aos viajantes e turistas alugarem um quarto de uma residência, alternativa mais econômica quando comparada a um quarto de hotel. Pessoas que possuem residências com quartos desocupados podem oferecer serviços de hospedagem por meio de aplicativos como o Airbnb e, assim, gerar renda extra. Esse modelo é bom para o turismo, visto que tem potencial de atrair mais pessoas para as cidades turísticas, porém pode impactar negativamente até certo grau o setor hoteleiro.
Nos grandes centros, os escritórios compartilhados ou espaços de coworking crescem a cada ano. Se você está iniciando uma startup ou é freelancer, investir em um escritório pode ser um tanto dispendioso. Assim, até que sua startup/serviço se torne lucrativa (o), a melhor alternativa pode ser alugar um escritório compartilhado, que oferece toda a infraestrutura necessária para o seu negócio. Esse modelo, além de econômico, traz a vantagem de colocar diferentes cabeças com diferentes propósitos no mesmo espaço físico, o que é propício para o surgimento de ideias inovadoras. Segundo o site Coworking Brasil, em 2019 o país contava com 1497 espaços conhecidos com essa característica.
E não para por aí! Também é possível alugar e/ou emprestar objetos, como ferramentas para reparos domésticos e construção e até aproveitar uma viagem para fazer um frete. Sim, há plataformas que conectam viajantes a compradores, como o Grabr.
De fato, a economia compartilhada propõe uma série de conceitos inovadores, trazendo mais liberdade de escolha e de empreendimento. Acredito que é um caminho sem volta, entretanto, é necessário considerar aspectos sobre legalidade e segurança, além de outros problemas que certamente surgirão após a adoção em massa desses tipos de serviços.
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 23/02/2020