Por que a programação de computadores deve fazer parte do currículo escolar?
Há muito tempo se discute a utilização de computadores em práticas pedagógicas. Entretanto, considerando-se a forte presença das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e como elas estão transformando a sociedade, há muitos pensadores que defendem que é necessário ir além da utilização. É necessário utilizar computadores para criar e não apenas utilizar tecnologias. É necessário que todos aprendam a programar computadores.
Segundo o matemático e professor Seymor Papert (1928 – 2016), pioneiro na utilização de computadores em práticas pedagógicas, a programação de computadores pode ser definida como a “ação de comunicação entre usuário e máquina por meio de uma linguagem que ambos entendem”. Assim, a programação consiste em criar soluções por meio da utilização da capacidade de processamento de dados e informações dos computadores. De fato, o ato de programar, além de outros benefícios, oferece ao aluno a capacidade de criar tecnologia e não apenas utilizá-la.
No contexto da programação de computadores, existem diversas linguagens de programação. Algumas são direcionadas ao aprendizado de conceitos computacionais, enquanto outras possuem a capacidade de criar soluções computacionais completas, como sistemas, aplicativos e jogos. Independentemente da linguagem, todas possuem semelhanças em suas estruturas semântica e lógico-matemática. Assim, quem aprende uma linguagem consequentemente aprenderá outras.
De acordo com o Instituto Ayrton Senna, um dos benefícios da programação de computadores em práticas pedagógicas é o desenvolvimento do “pensamento computacional”. Para Jeanette Wing, professora da Universidade Carnegie-Mellon e vice-presidente da divisão de pesquisas da Microsoft, o pensamento computacional é a “formulação de problemas e soluções representados de forma que possam ser executados por processadores de informações – humanos, computadores ou, melhor ainda, uma combinação de ambos”. Vale destacar que, apesar de o pensamento computacional não estar necessariamente relacionado a computares, essas máquinas são importantes no sentido de prover a simulação, a prototipagem e a criação de soluções automatizadas, não apenas na área da computação.
O pensamento computacional pode ser dividido em quatro fases: a) decomposição – consiste em dividir um problema em problemas menores a fim de simplifica-lo e resolvê-lo por pequenas etapas; b) padrões – identificar padrões que geram o problema e, principalmente, criar uma solução padronizada e reutilizável em diversos contextos; c) abstração – ignorar os detalhes de uma solução de maneira que ela possa ser válida em classes de problemas; d) algoritmo – criar uma sequência finita de passos capazes de resolver o problema usando uma linguagem computacional.
Diversas pesquisas e iniciativas ao redor do mundo indicam que o pensamento computacional ajuda a desenvolver competências e habilidades consideradas essenciais aos profissionais do futuro. Paulo Blikstein, professor e pesquisador da Universidade de Stanford, destaca que o “pensamento computacional é saber usar o computador como um instrumento de aumento do poder cognitivo e operacional humano – em outras palavras, usar computadores e redes de computadores – para aumentar nossa produtividade, inventividade e criatividade”. O ensino de programação é capaz de estimular a criatividade, a autonomia e a persistência, além de desenvolver o raciocínio lógico e a capacidade de resolver problemas e trabalhar em equipe.
Portanto, é necessário que as escolas públicas e privadas considerem a urgência da inserção da programação de computadores em seus currículos escolares, visto que é necessário preparar cidadãos para um mundo cada vez mais dominado por tecnologias computacionais.
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 03/02/2019.