Sob a redoma (Resenha)
Quando me deparei com a série “Under the dome” (Sob a redoma) na Netflix, foi paixão à primeira vista. Logo no primeiro episódio, após diversos acontecimentos misteriosos, somos presenteados com uma temática extremamente rica, complexa e inteligente. Os personagens, os diálogos e as questões éticas, filosóficas e morais envolvidas nas situações, são capazes de fazer com que o espectador assista vários episódios num só dia. Infelizmente, após 3 temporadas a série foi cancelada, deixando um “gostinho de quero mais”. Assim, adquiri a obra no formato eBook (Kindle) que inspirou a série, com o objetivo de saciar minha curiosidade sobre o futuro da pequena cidade de Chester’s Mill e seus habitantes.
Pois bem, o livro Sob a Redoma é de autoria do lendário Stephen King, o mesmo autor de A coisa, O iluminado, A espera de um milagre e tantas outras aclamadas obras que tiveram adaptações para o cinema e para a TV. Confesso que o estilo de King não me agrada muito, e Sob a Redoma é apenas a segunda obra de sua autoria leio. A primeira foi A Zona Morta, que também teve sua adaptação para o cinema em 1983, estrelado pelo então jovem Cristopher Waken.
A trama acontece na pequena cidade de Chester’s Mill, no estado do Maine, EUA. Sem explicação ou motivos revelados inicialmente, uma redoma cobre toda a cidade, impedindo seus habitantes de entrar ou sair. Aviões, helicópteros e caminhões explodem ao colidir com a redoma, pessoas são separadas de sua família e o medo toma conta do mundo que assiste atônito essa situação bizarra. Felizmente, o ar e o sinal de telefone e internet passam por essa barreira invisível, deixando os habitantes isolados apenas fisicamente. Entretanto, no futuro a falta de alimento, combustível e água poderá causar um colapso dentro da redoma, matando todos os seus habitantes.
Apesar de todo o medo e pavor desencadeados pela redoma, o segundo vereador James “Big Jim” Rennie, um político manipulador e dissimulado, usa a redoma para ganhar poder e dominar a cidade. Os métodos de Big Jim envolvem assassinatos, mentiras, manipulação e outros artifícios imorais.
Felizmente, parte dos moradores, se une para combater Big Jim, que está disposto a ir até as últimas consequências para dominar Chester’s Mill e proteger um grande segredo. Entre a resistência está Dale Barbara (Barbie), um ex-soldado herói de Guerra, e Julia Shumway, a jornalista local. Apoiados pelo Coronel Cox, que está fora da redoma, e diversos outros moradores, eles irão descobrir que lutar contra Big Jim apenas no campo das ideias não é o suficiente.
Sob a redoma não é apenas um romance de ficção, é também uma obra filosófica nos mais diversos aspectos. King consegue extrapolar com maestria e coerência algumas possíveis situações que poderiam ocorrer em um grande ambiente fechado fisicamente, em que até mesmo as boas pessoas podem ser dominadas por instintos primitivos e interesses próprios. Longe das regras impostas pela sociedade por meio dos seus agentes, seja a igreja, o Estado ou a família, os seres humanos são capazes de coisas inimagináveis. O autor consegue, sem pudor algum, expor o lado animalesco do ser humano, sempre fazendo um paralelo com as bolhas sociais e como elas podem ser nocivas e autodestrutivas.
Trata-se de uma obra para quem realmente gosta de tramas inteligentes e complexas, que fogem da normalidade e da previsibilidade. Os poucos clichês limitam-se a romances (im)prováveis, mortes (im)previstas e a hipocrisia dos falsos cristãos. Aliás, a falsa religiosidade é um tema recorrente na pessoa de Big Jim e da missionária atéia Piper Libby. Do resto, a obra surpreende a cada capítulo.
Apesar de ser uma adaptação que mantém a fidelidade na essência, a série chega a ser, em alguns momentos, mais interessante que a obra. Entretanto, a obra original oferece mais personagens, mais diálgos e mais eventos catastróficos, alguns inadequados para a TV. Mesmo assim, recomendo os dois!