Impressoras 3D irão revolucionar a construção civil.
Quem já teve a oportunidade de construir uma casa sabe que essa empreitada não é uma tarefa fácil. Além de toda a parte burocrática que envolve um possível financiamento, a documentação e o projeto do imóvel, o proprietário ainda precisa cuidar da compra do material, escolher uma boa equipe de profissionais e, por fim, acompanhar a obra durante muitos dias para que tudo saia como planejado. Mesmo assim, é bem provável que surjam alguns entraves que certamente exigirão bom senso e negociação entre os envolvidos. Agora, imagine se fosse possível simplesmente imprimir uma casa. Sim, você leu corretamente, estou falando das impressoras 3D. Essa fantástica tecnologia está causando uma série de transformações em diversas indústrias e, agora, promete revolucionar também a construção civil.
Uma impressora 3D é um dispositivo capaz de fabricar objetos sólidos segundo os conceitos de manufatura aditiva, ou seja, por meio da deposição de várias camadas de materiais. Esse processo é o contrário da usinagem, que molda ou retira partes de um objeto bruto a fim de obter uma forma específica. Para que o processo de impressão 3D aconteça, é necessário um software para a criação de um modelo tridimensional. Depois de criado, o modelo é interpretado pela impressora, que imprime o objeto usando diversos tipos de materiais.
Inicialmente, a impressão 3D era usada apenas para a prototipagem rápida, ou seja, para a criação de modelos com o objetivo de simulação em ambientes reduzidos e controlados. Hoje, esses fantásticos equipamentos são utilizados para a impressão de diversos objetos, independentemente do tamanho e da complexidade, incluindo modelos de peças automotivas, maquetes, miniaturas e até órgãos humanos. Sim, segundo alguns especialistas, no futuro, órgãos impressos irão além dos fins didáticos. A bioimpressão é um campo extremamente promissor.
“Além de dar mais liberdade criativa aos designers, casas impressas são mais baratas e construídas mais rapidamente”
Na construção civil, a impressão 3D dá sinais de que uma grande revolução vem por aí. A impressora 3D Vulcan, criada pela startup Icon, em parceria com a ONG New Story, foi capaz de erguer as paredes de uma casa com cerca de 60m2 em menos de 24 horas e com um custo de apenas US$ 4.000,00. A primeira residência criada com o dispositivo está nos Estados Unidos, na cidade de Austin, Texas. Essa gigantesca impressora pode pesar mais de uma tonelada, e suas dimensões variam de acordo com o tamanho da obra. Ela funciona de maneira similar às demais, porém, usa cimento para “imprimir” as paredes. Os ajustes finais, como a colocação do teto, portas, janelas, instalações elétricas e pintura, são feitos manualmente (por enquanto). O principal objetivo da New Story é levar essa ideia para outros países, com o objetivo de ajudar as pessoas de baixa renda a ter sua casa própria.
Na cidade de Nantes, na França, uma família aceitou o desafio de morar em uma casa construída com uma impressora 3D em junho de 2018. O imóvel possui cerca de 95m2e foi projetado de maneira inovadora, com paredes curvas que contornam árvores seculares e ajudam no controle da humidade. Segundo Francky Trichet, um dos envolvidos no projeto, é possível vislumbrar um futuro em que casas, ginásios e outros tipos de imóveis poderão ser construídos massivamente usando a impressão 3D. Além de dar mais liberdade criativa aos designers, casas impressas são mais baratas e construídas mais rapidamente. São muitas as vantagens.
De fato, a impressão 3D causará um tremendo impacto no setor da construção civil em um futuro não muito distante. Entretanto, tais mudanças não serão apenas positivas, visto que a adoção desses equipamentos poderá extinguir milhares de vagas de emprego. Ademais, as profissões relacionadas diretamente ao setor, como engenheiro, arquiteto, mestre de obras e pedreiro, deverão sofrer profundas mudanças. É como diz a canção “Pose (Anos 90)” dos Engenheiros do Hawaii: “O futuro se impõe, o passado não se aguenta”.
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales – coluna Fatecnologia – no dia 22 de julho de 2018