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Conheça a origem do Sonic: o ouriço azul que marcou gerações

Conheça a origem do Sonic: o ouriço azul que marcou gerações

O ano é 1989. A Nintendo detém mais de 90% do mercado de consoles.  Responsável por “ressuscitar” a indústria dos games após o “crash” de 1983, causado pela Atari e sua torrente de jogos de péssima qualidade, a “Big N” fez história com o console Family Computer, ou apenas Famicom. Em 1985 o console foi reestilizado e rebatizado de NES (Nintendo Entertainment System) com o objetivo de explorar o mercado norte-americano. De fato, o console de 8 bits da Nintendo moldou a indústria dos games, não apenas pelos jogos de qualidade, mas também pela inovadora proposta de trazer os grandes sucessos dos arcades para dentro dos lares. Além do mais, o console foi o grande responsável pelo surgimento de um dos maiores ícones dos games: o encanador Mario. Entretanto, após a entrada da Sega no mercado de consoles, Mario ganharia um rival à altura, iniciando uma competição que romperia a barreira do mundo dos games: Sonic, The Hedgehog. 

“O ouriço parecida desprezível, tosco, com presas afiadas, coleira de espinhos, uma guitarra e uma namorada humana cujo decote fazia os seios da Barbie parecerem pequenos” (A Guerra dos Consoles – Blake J. Harris, pág. 89)

Sonic surgiu de um concurso interno de design realizado pela Sega of Japan (SOJ) cujo objetivo era criar um personagem para ser a cara da Sega, que pretendia lutar de igual para igual com a toda poderosa Nintendo pelo mercado de consoles. O pequeno Alex Kidd havia falhado nesse propósito. 

Inicialmente, o ouriço azul se chamava Mr. Needlemouse, tinha presas, coleiras de espinhos, uma guitarra e tinha uma namorada humana, sugestivamente chamada de Madonna. Algo extremamente ousado para a época, se levarmos em conta que o público alvo era crianças e adolescentes. Entretanto, graças a percepção de mercado de Tom Kalinske, o então CEO da Sega of America (SOA),  o ouriço ganhou sua aparência clássica, surgindo assim, o principal rival de Mario. 

Fan Art de Mr. Needlemouse e Madonna (Fonte:  Telpa – clique!)

“Ele (Kalinske) esperava uma mascote que fosse acabar com o Mario, mas não uma peque literalmente parecesse um serial killer. Talvez esse Sonic fosse vendável no Japão, mas nos Estados Unidos ele era digno de um pesadelo.”  Blake J. Harris (A Guerra dos Consoles, pág. 89)

De acordo com a obra “A guerra dos consoles”, no  capítulo 8, intitulado “Nasce um ícone”, havia uma constante disputa de egos entre SOA e SOJ. A SOJ foi a responsável pela criação do personagem e, principalmente, pela idealização do game cujo protagonista seria o ouriço azul.

Tom Kalinske em foto da época.

Sendo assim, a equipe japonesa não abria mão de controlar e decidir todos os aspectos do game, não permitindo qualquer interferência da SOA. Porém, ao ver a aparência original de Sonic, Kalinske, que havia trabalhado durante 15 anos na Mattel, uma das principais indústrias de brinquedos, sentiu que “aquilo” seria um fiasco sem precedentes. Assim, fez com que a equipe de criação da SOA trabalhasse no ouriço azul, a fim de deixá-lo mais adequado e apresentável ao público alvo: as crianças.

“Só vou dizer uma coisa… se o Sonic e o Mario estivessem sozinhos em um beco, eu não teria dúvidas para decidir em quem apostaria meu dinheiro” Tom Kalinske (A Guerra dos Consoles, pág. 89)

Após uma visita a Toys “R” Us, famosa loja de brinquedos, Kalinske e sua equipe estavam convencidos de que o Sonic precisava ser algo capaz de romper a barreira dos video-games. Ele precisava ser um personagem completo, com uma história cativante e inspiradora, que faria com que as crianças desejassem ter ele como amigo de aventura. Sonic precisava ser algo que Mario não era, caso contrário, não conseguiria fazer frente ao mascote da Nintendo. Entretanto, após uma série de decisões baseadas no know-how de Kalinske, o redesign de Sonic não agradou o então presidente da Sega, Hayao Nakayama.

“Meu pessoal não gostou do que você fez com a criação deles. O ouriço não lembra em nada a ideia que tínhamos para ele. Vamos voltar ao original.” Hayao Nakayama – Presidente da Sega  (A Guerra dos Consoles, pág. 93)

Após ver que Sonic havia sido completamente transformado pela equipe de Kalinske, Nakayama, mesmo relutante, mostrou o novo ouriço a equipe da SOJ que, por unanimidade, não aceitou as modificações dos americanos. Estava claro que o conflito de egos era um inimigo tão grande quanto a própria Nintendo. Percebendo que o clima entre SOA e SOJ poderia acabar com o Sonic antes mesmo dele nascer, Kalinske pediu a Nakayama para tentar convencer a equipe japonesa a mudar de ideia. Nakayama aceitou. 

Hayao Nakayama, CEO da Sega entre 1984 e 2000.

“Não importa o que eu penso. O que importa é se vai vender.” Hayao Nakayama – Presidente da Sega (A Guerra dos Consoles, pág. 93)

Durante a reunião, os ânimos ficaram exaltados, e até sugeriram a criação de duas versões do ouriço, uma americana e outra oriental. Felizmente, após Kalinske convencer Nakayama que o design clássico seria mais adequado, a SOJ teve que criar os sprites do game, que foi batizado de Sonic: The Hedgehog.

Lançado em 23 de junho de 1991 para o console Mega Drive (Genesis nos EUA), o primeiro game do ouriço fez história, abalando a indústria de games da época, que tinha a Nintendo como líder e principal referência. O ouriço azul se mostrou um rival à altura de Mario e iniciou a fatídica Guerra dos Consoles, um fato que indiretamente contribuiu para o surgimento do console Sony Playstation em dezembro/1994.

Então, certa vez, fui até ele e perguntei ao verdadeiro criador do Sonic (Naoto Oshima) de onde veio a ideia. Ele é muito tímido, um rapaz modesto, e eu esperava que ele dissesse algo como “Foi um trabalho em equipe”, ou “Não foi nada de mais”, mas ele deu um sorriso discreto e disse: “Coloquei o Gato Félix no Corpo do Mickey”. Mike Fischer (A Guerra dos Consoles, pág. 398)

Segundo Naoto Oshima, o criador do Sonic, ele é a união de Mickey Mouse com Gato Félix.

No decorrer dos anos, assim como Mario, o universo Sonic criou personagens marcantes, games em diversas plataformas e nos mais diversos gêneros, inspirou vários desenhos animados e uma grande lista de produtos licenciados. Além do mais, o ouriço azul se tornou o principal suporte financeiro da Sega, que mudou drasticamente sua atuação no mercado de games após o crash causado pelo seu último console no início dos anos 2000, o Dreamcast. Muitas pessoas dizem que a empresa não faliu graças ao ouriço azul e sua turma.

Clássico, moderno e Boom: as versões de Sonic em 3D.
E também em 2D.

De fato, o ouriço azul, ao lado de Mario, possui um legado cultural que, assim como previu Kalinske, ultrapassou os limites dos video games e, sem sombra de dúvidas, é um dos ícones mais marcantes da cultura pop/nerd. Sonic é atemporal e continuará alimentando a imaginação de muitas crianças no futuro.


Observações: as informações deste post foram tiradas do livro “A Guerra dos Consoles” de Blake J. Harris. Confira a resenha clicando aqui.

O designer da imagem em destaque é Hinata70756 – Fonte original: https://hinata70756.deviantart.com/art/Sonic-wallpaper-16-349007242

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!