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Analfabetos e analfabytes

Analfabetos e analfabytes

Um estudo publicado em 2020 pela empresa de consultoria PWC, intitulado “O abismo digital no Brasil”, apresentou dados extremamente preocupantes em relação a letramento e cultura digitais. De fato, quando o assunto é educação, seja em qualquer aspecto, o cenário atual só não é mais preocupante do que o futuro caótico projetado por muitos especialistas.

Considerando o último exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, da sigla em inglês), em 2021, 10 de cada 25 crianças de 15 anos não sabiam ler e escrever no Brasil. Um outro dado preocupante apresentado é que 67% dos estudantes nessa idade não sabem diferenciar fatos de opiniões na leitura de textos. Ademais, 68% dos estudantes não conseguem reconhecer, interpretar ou representar matematicamente uma situação.

Além dos resultados medíocres do Pisa, o relatório da PWC destaca que somente 15% das escolas brasileiras ensinam programação de computadores ou robótica, competências essenciais no mundo do trabalho no século XXI. Ademais, o relatório Letramentos Digitais e Inclusão Digital no Brasil Contemporâneo, publicado em 2021, faz coro ao estudo do PWC.  Esse estudo chama atenção para a dificuldade e/ou falta de acesso à internet pelas classes mais pobres, além da falta de conhecimento que essas pessoas têm sobre a grande rede. Muitas delas acreditam que tudo se resume a mídias sociais.

“…somente 15% das escolas brasileiras ensinam programação de computadores ou robótica, competências essenciais no mundo do trabalho no século XXI”

Esse cenário é preocupante sob vários aspectos, principalmente quando falamos sobre o mundo do trabalho, que vem sofrendo transformações cada vez mais intensas, impulsionadas pelas tecnologias de inteligência artificial (IA). Assim, uma educação deficitária, seja ela tradicional ou digital, causa impactos negativos na vida de um cidadão e, por consequência, compromete o futuro de um país.

Vários estudos publicados mostram que ocupações tradicionais da força de trabalho estão perdendo espaço para tecnologias de automação. Sim, historicamente, as máquinas sempre substituíram o homem em diversas funções, porém a Revolução Industrial 4.0 (RI4), como esse fenômeno tem sido chamado, causa um impacto ainda maior do que as revoluções anteriores. Isso se dá devido ao fato de que o mundo é globalizado e digital, tornando as tecnologias de informação e comunicação muito mais baratas e acessíveis a pessoas e empresas. Isso significa que a RI4 tem um poder ainda maior de extinguir profissões e postos de trabalho.

Isso está obrigando muitos trabalhadores a migrarem de área ou ocupar cargos fora de sua formação/experiência, muitas vezes com redução de salários. Em outros casos, o que temos é o desemprego, considerando pessoas incapazes de migrar de área.

“O futuro não é receptivo a um país de analfabetos e analfabytes. Precisamos mudar!”

pROF. j. l. gREGÓRIO

Em contrapartida, há diversos estudos que mostram um grande crescimento na demanda por profissionais ligados direta ou indiretamente ao mundo digital, à medida que as empresas adaptam seus modelos de negócio ou criam mercados no mundo digital. Infelizmente, ao que tudo indica, o Brasil poderá perder uma grande oportunidade, visto que, segundo o estudo da PWC, teremos um déficit de quase 1 milhão de profissionais até 2025.

Para reverter esse cenário, é necessário fazer o que nunca fizemos: tratar a educação de base como prioridade máxima, com foco no longo prazo, olhando para o futuro digital e, principalmente, pensando como nação e não como partidários ou governistas. O futuro não é receptivo a um país de analfabetos e analfabytes. Precisamos mudar!


Artigo publicado originalmente na coluna Fatecnologia, do Jornal de Jales, no dia 12/11/2023

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!