Não olhe para cima (Netflix) – Opinião
Sobre o filme “Não olhe para cima”da Netflix. Vi várias análises de militantes (e militontos) de todos os lados: petistas, bolsonaristas, “coronélistas”, “moristas”, “MBListas”, isentões, etc. Todos puxando a narrativa do filme para o seu lado, reivindicando estar “do lado certo da história”.
Todo esse frisson sobre o filme evidencia, principalmente, a capacidade da Netflix em “causar” nas redes sociais, independemente da qualidade de suas obras.
De fato, os arquétipos apresentados no referido longa representam diversos personagens da nossa realidade: o presidente corrupto e/ou negacionista; o burocrata sem noção; o cientista competente, porém ingênuo; os irresponsáveis e tendenciosos da imprensa; o bilionário excêntrico e oportunista; o idiota útil que faz parte da massa de manobra e é facilmente influenciado; as celebridades ignorantes e alheias ao mundo real; e vários outros.
Entretanto, a obra possui um roteiro fraco, é cheia de clichês, possui diálogos vazios e, principalmente, atuações medíocres. E olha que estamos falando de um elenco composto por Leonardo Di Caprio, Jennifer Lawrence, Kate Blanchett e Meryl Streep. Eles parecem não ter levado o filme a sério.
Di Caprio, no papel do Dr. Randall Mindy, o cientista ignorado, não se esforça pra entregar um personagem marcante. Ele estava anos-luz do personagem Hugh Gloss, que lhe rendeu o Oscar no longa O Regresso, de 2016. Os demais vão no mesmo embalo. A única que talvez tenha se esforçado foi a maravilhosa Kate Blanchett, no papel da reporter oportunista Brie Evantee.
O longa até apresenta alguns momentos de lucidez. Há um momento em que o cientista Mindy responde a um seguidor usando argumentos científicos; e outro em que um marketeiro afirma que o cientista precisa de “treinamento midiático”, pois seria um pouco “lerdo”.
Do resto, o que temos é uma crise de identidade sem fim. A obra não sabe se é uma sátira, uma comédia, um drama ou seja lá o que for.
Enfim, Não olhe para Cima é apenas mais uma obra pseudo-intelectual que ignora a profundidade dos assuntos que deveriam ser supostamente abordados. Temas como desinformação, guerra de narrativas, influência midiática, efeito manada, entre outros, são tratados de maneira extremamente superficial. Que roteirista preguiçoso!
Trata-se de um material perfeito para os “inteligentinhos” que nunca leram um livro sobre política na vida, mas vão vomitar frases do filme com o intuito de passar uma imagem de consciência crítica.
Nota 5.0. Não recomendo.