Infodemia e desinformação na pandemia
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o termo infodemia é definido como “um excesso de informações, algumas precisas e outras não, que torna difícil encontrar fontes idôneas e orientações confiáveis quando se precisa”. Podemos afirmar que vivemos uma constante infodemia, mesmo antes do atual contexto pandêmico, responsável pela potencialização da desinformação, isto é, da informação imprecisa, manipulada, fora de contexto, ou pura e simplesmente mentira.
De fato, mesmo na era “pré-covid”, o excesso de informação ocasionado pelo uso intensivo da internet e suas tecnologias subjacentes já havia colocado a humanidade em uma tempestade informacional sem precedentes. Assim, quando há um forte aumento do volume de informações relacionadas a um determinado assunto, fica mais difícil filtrar o que é verdade e o que não é. Ademais, sempre há pessoas e grupos mal-intencionados que usam a desinformação para atingir objetivos ideológicos.
Na atual pandemia, a infodemia está potencializando a desinformação, impactando profundamente diversos aspectos da guerra contra o coronavírus. Por exemplo, os muitos boatos espalhados sobre a eficácia e os efeitos das vacinas contra a Covid-19 estão fazendo com que muitas pessoas simplesmente não se vacinem. Isso pode prejudicar o processo de imunização, colocando vidas em risco, sobrecarregando o sistema de saúde e, finalmente, comprometendo a plena retomada das atividades econômicas.
Além disso, a guerra político-ideológica travada entre apoiadores e opositores dos governos, principalmente no âmbito federal, faz com que circule nos aplicativos de mensagens diversas inverdades sobre a origem do vírus, tratamentos e até teorias conspiratórias que envolvem questões políticas, capitalistas e religiosas. Tudo isso dificulta o acesso a informações publicadas por fontes idôneas, principalmente quando são usados supostos símbolos de organizações oficiais e fotos de personalidades para dar um “ar” de autoridade. Nesse sentido, podemos afirmar que a desinformação se consolida cada vez mais como uma poderosa ferramenta de manipulação comportamental.
E não se engane, o problema não é exclusividade do Brasil, considerando que a maneira como obtemos informações mudou drasticamente nos últimos 20 anos. Por isso, diversos países estão adotando medidas de combate à desinformação, com destaque para a Finlândia, que, em 2014, incluiu o letramento midiático (ou letramento digital) como parte do currículo dos ensinos fundamental e médio. Hoje o país ocupa o primeiro lugar no Media Literacy Index (índice de letramento midiático), avaliado pelo Open Society Institute de Sofia. Dinamarca, Estônia, Suécia e Irlanda são os quatro colocados logo após.
No Brasil o desafio é enorme, considerando sua dimensão geográfica e questões históricas, socioeconômicas, culturais e educacionais. Em um mundo em que celebridades exercem grande influência sobre nossos jovens, não é fácil fazer com que eles pensem criticamente e confirmem as informações antes de compartilhar.
Tomando o exemplo da Finlândia, podemos afirmar que somente a educação pode combater efetivamente a desinformação no médio e longo prazos. Para o professor e historiador Yuval Noah Arari, “em tempos antigos ter poder significava ter acesso a dados. Atualmente ter poder significa saber o que ignorar”. Precisamos fazer com que a população adquira esse poder!
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 22/08/2021.