fbpx

O acesso é mais importante do que a posse

O acesso é mais importante do que a posse

Em 2015, Tom Goldwin, um dos repórteres do portal de notícias Tech Crunch (techchrunch.com), notou que “O Uber, a maior empresa de táxis do mundo, não tem nenhum veículo. O Facebook, a corporação de mídia mais popular, não cria conteúdo. O Alibaba, o varejista mais valioso, não conta com estoque. E o Airbnb, a maior rede de hospedagem do planeta, não possui nenhum imóvel. Um fenômeno interessante está ocorrendo”. Essas empresas e seus respectivos serviços tornaram-se não apenas símbolos de inovação, mas de uma nova realidade que está redefinindo o capitalismo e os negócios no século XXI: o acesso é mais importante do que a posse.

A ausência de propriedade não está apenas no mundo físico, ela se estende ao mundo virtual. O Spotify me dá acesso a praticamente todas as bandas e músicos de que eu gosto, sem que eu tenha que comprar um único CD. Bom, quem, em pleno século XXI, ainda compra álbuns musicais? Eu deixei de fazê-lo há uns 15 anos ou mais.

A Netflix, uma das maiores plataformas de streaming de vídeo do mundo, me deixa assistir a seus filmes e seriados sem que eu tenha que comprá-los. O Kindle Unlimited, serviço de distribuição de livros digitais da Amazon, me dá acesso a milhares de livros sem que eu precise adquiri-los. Sou assinante (não comprador!) desses dois serviços e estou plenamente satisfeito com a quantidade de conteúdo disponível.

Kevin Kelly, em seu livro Inevitável: as 12 forças tecnológicas que mudarão o mundo (2016), traz a seguinte reflexão: “Imagine que você viva em um mundo que é uma grande locadora de tudo. Por que, então, comprar coisas? Basta pegar emprestado  o que quiser, na hora que precisar”.

[…] a transformação da “propriedade comprada” para o “acesso por assinatura” causa uma completa disrupção nos modelos de negócio que consolidaram o capitalismo e a economia global no século XX.

J. L. Gregório

Quando pegamos algo emprestado ou alugado, ficamos livres das responsabilidades do proprietário. Já pensou no tempo e no dinheiro que você perde possuindo um carro: limpar, contratar seguro, fazer revisão etc. Por que, então, não usar o Uber ou algum outro serviço de aluguel de veículos? Se você é amante da leitura e gostaria de ter muito mais livros, mas esbarra em barreiras financeiras e espaço físico para armazenamento das obras, imagine o que o Kindle Unlimited pode fazer por você.

De fato, a transformação da “propriedade comprada” para o “acesso por assinatura” causa uma completa disrupção nos modelos de negócio que consolidaram o capitalismo e a economia global no século XX. A posse normalmente é inconstante e perde lugar para algo mais novo, melhor. Um novo veículo, uma nova residência, um novo computador, um novo videogame. Por sua vez, a assinatura proporciona um fluxo contínuo de atualizações, o que implica uma constante interação entre produtor e consumidor. As empresas que entenderam essa nova realidade estão fornecendo serviços mais acessíveis e mais baratos, ao mesmo tempo que fortalecem a relação com seus clientes, consolidando suas marcas na nova economia.

Pense: a grande maioria das pessoas possui um superdispositivo de comunicação no bolso. Assim, modelos de negócio completamente inimagináveis e impossíveis no passado tornam-se realidade, principalmente na indústria de serviços. A uberização (ou uberficação) dos serviços é uma realidade e, mais cedo ou mais tarde, as empresas, mesmo as pequenas, terão que se adaptar.

Se eu fosse iniciar um negócio hoje, certamente iria pensar em algo na indústria de serviços, aliado ao acesso sob demanda. Afinal, penso eu, há muito mais possibilidades e espaço para servir do que para produzir.


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 25/07/2021.

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!