Fui hackeado por uma criança de 6 anos!
Quando alguém é “hackeado”, significa que sofreu algum tipo de golpe relacionado a Tecnologias da Informação e Comunicação. Se um cibercriminoso consegue o seu nome e a sua senha do Facebook, ele pode se passar por você, praticando diversos tipos de crimes, inclusive enganando seus amigos da rede social.
O termo hackeado deriva da palavra hacker, que se originou do verbo em inglês to hack, cuja tradução livre é “cortar grosseiramente”. De fato, no início dos anos 1960, os hackers, em sua maioria estudantes de tecnologia, faziam exatamente isso: desbravavam os computadores que estavam nas mãos das grandes organizações, universidades e governos. Assim, a principal marca da cultura hacker no início do movimento na década de 1960 era a crença de que o computador poderia ser uma ferramenta de libertação pessoal, satisfação intelectual e conexão com a comunidade.
Após o boom da computação pessoal e da internet nos anos 1980, os hackers foram divididos basicamente em duas categorias: hackers e crackers. Os primeiros são éticos, visto que se limitam às leis e usam seus talentos para aprimorar tecnologias. Por sua vez, os crackers usam seus talentos para praticar diversos tipos de crimes.
O crescimento da cultura hacker fez com que os sistemas de segurança evoluíssem a ponto de ser praticamente impossível sua violação por meios técnicos. Assim, os crackers recorrem à uma técnica conhecida como “engenharia social”, ou seja, o ato de persuadir uma vítima pela manipulação psicológica, exatamente o que meu filho Emanuel, de apenas 6 anos, fez para me hackear (claro, de maneira inconsciente, pois ele é apenas uma criança). Explico como.
Não é fácil manter os pequenos ocupados em casa em tempos de pandemia e distanciamento social e, para monitorar o que estão vendo no smartphone, uso o aplicativo Google Family Link, que me permite controlar a instalação de aplicativos, bloquear o dispositivo e gerenciar o seu tempo de uso. Um dia meu filho me indagou: “Papai, qual é o nome do aplicativo que você usa para me controlar?”. Eu, inocente, respondi: “Family Link, filho!”. Ele prosseguiu: “Me mostra como funciona?”. “Claro, senta aqui”, repliquei, fascinado pela curiosidade do pequeno. Nesse momento, ele viu o padrão que usei para desbloquear o meu smartphone, o ícone e as principais funcionalidades do aplicativo. Engenharia social executada com sucesso!
No próximo dia, notei que ele estava há muito tempo usando o aparelho, rompendo o limite de 1 hora por dia. Após checar o aplicativo Family Link, percebi que ele usava o dispositivo há mais de 2 horas! Claro, efetuei o bloqueio e chamei a atenção do pequeno hacker, que havia aproveitado uma oportunidade para pegar meu celular e usar as informações obtidas via engenharia social. No outro dia, deixei meu smartphone na mesa de trabalho enquanto tomava banho. Ao voltar, notei que o aplicativo Family Link havia sido desinstalado! Claro, as informações de bloqueio ficam armazenadas na minha conta Google, de maneira que a desinstalação do aplicativo não desabilitou as restrições do dispositivo controlado. Mesmo assim, fiquei impressionado com sua capacidade de inferência. Novamente, dei aquela bronca, reinstalei o Family Link, bloqueei o seu dispositivo e, finalmente, lembrei de mudar minha senha.
Esse episódio possui muitos significados, considerando a atual cultura digital em que estamos inseridos. A geração Alpha, isto é, crianças nascidas a partir de 2010, é caracterizada por um contato permanente com as tecnologias, o que está moldando sua personalidade e formando uma visão de mundo totalmente diferente das gerações menos conectadas. Se com 6 anos já estão hackeando os pais, imagina quando chegarem à adolescência, usando a tecnologia como o principal catalisador de sua inteligência. É fascinante e assustador pensar nisso!