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O profissional antifrágil

O profissional antifrágil

Uma das palavras mais ouvidas em tempos de crise é “resiliência”. Para a ciência de materiais, o termo diz respeito à capacidade de um material voltar ao seu estado original após sofrer uma força deformadora. Imagine uma fita elástica: você prende uma ponta com uma das mãos e com a outra você a estica até que ela se rompa. Caso decida parar de puxar antes do rompimento, a fita voltará ao seu estado original, mesmo com algumas possíveis deformações, visto que alguns fios internos podem ter se rompido. Trazendo para o mundo do trabalho, um profissional resiliente é aquele que é capaz de vivenciar situações de stress, pressões e crises, mas consegue encarar todas as desavenças como experiências passageiras, além de aprender com elas.

As principais características geralmente atribuídas a um profissional resiliente são autoconfiança, empatia, criatividade, otimismo, persistência e flexibilidade, ou seja, alguém que possui soft skills (competências socioemocionais) bem desenvolvidas. De fato, todas as empresas desejam profissionais resilientes no seu quadro de colaboradores. Entretanto, considerando que o mundo do trabalho está em constante evolução, será que resiliência é uma característica suficiente para que o profissional do século XXI sobreviva no longo prazo? Penso que não e explico o porquê.

Com a crise gerada pela pandemia da Covid-19, muitos profissionais perderam o emprego. Alguns deles, mesmo resilientes, procuraram emprego dentro das atividades que já vinham exercendo, considerando sua zona de conforto profissional. Alguns obtiveram sucesso, outros não. Entre os que não conseguiram uma recolocação no mercado, muitos continuam desempregados, enquanto outros se reinventaram e procuraram empregos que envolvem outras atividades, visto que possuíam ou estavam dispostos a aprender novas habilidades. Nesse contexto, ser um profissional “antifrágil” faz mais sentido do que ser apenas resiliente.

“Lembre-se: a resiliência conduz à antifragiliade”

O conceito de “antifrágil” foi criado pelo professor, investidor e matemático Nassim Taleb, em seu livro “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos” (Editora Best Business, 2014). Na obra, Taleb apresenta estratégias de investimentos no mercado financeiro para que o investidor proteja seu patrimônio, enquanto aufere ganhos significativos mesmo em tempos de crise. A visão macro da estratégia apresentada se resume a proteger a maior parte do seu capital em ações de empresas consolidadas, enquanto arrisca a menor parte em empresas de menor expressão, mas com boas projeções de crescimento.

Trazendo para o mundo do trabalho, um profissional antifrágil é aquele que, além de ser resiliente, possui e/ou busca conhecimentos e habilidades que vão além da sua área de atuação. Assim, caso aconteça uma crise de emprego, esse profissional é capaz de mudar de área e seguir em frente, sempre buscando novas possiblidades. Da mesma maneira, uma empresa antifrágil é aquela que diversifica seu portifólio de produtos e serviços, ao mesmo tempo em que marca presença em diversos canais de vendas, além de ter diversas fontes de receita.

Um estudo realizado pela consultoria Cognizant e publicado em 2018, cujo título pode ser traduzido para “21 empregos do futuro: um guia para manter-se empregado até 2029”, destacou uma série de novas profissões que devem surgir nos próximos anos. A característica principal delas é a multidisciplinaridade, ou seja, uma fusão de competências e habilidades de diversas áreas do conhecimento. De fato, a antifragilidade é uma característica obrigatória a todos os profissionais e empresas do século XXI, mesmo antes da Covid 19. Mas, preste atenção! É impossível pular etapas, pois a resiliência conduz à antifragilidade.


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 05/07/2020.

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!