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Um mundo que não pensa (Resenha)

Um mundo que não pensa (Resenha)

Tecnologia muda cultura. Isso é um fato mais que comprovado no presente século, considerando a velocidade com que a informação, e também a desinformação, trafegam pela grande rede de computadores.

De fato, a forma como obtemos informação mudou. Mudou tanto, que até pessoas inteligentes se enganam ou são enganadas pelas fake news, que normalmente satisfazem ou ecoam o viés de confirmação de cada um. Assim, a superficialidade e a irrelevância têm prioridade em nosso cérebro, criando uma espécie de “censura reversa”.

Yuval Noah Arari, que dispensa apresentações, destaca no seu best-seller Homo Deus (Companhia das Letras, 2016) que “No passado, a censura funcionava bloqueando o fluxo de informação. No século XXI, ela o faz inundando as pessoas de informação irrelevante”.

“Facebook e Google criaram um mundo no qual as antigas fronteiras entre fato e mentira caíram por terra, em que as informações falsas se propagam de forma viral”

Franklin Foer

Nesse contexto, Franklin Foer, jornalista “raiz”, nos presenteia com Um mundo que não pensa (Editora Leya, 2019). Trata-se de um livro interessante e revelador, em que aborda nosso comportamento autodestrutivo no sentido intelectual. Para Foer, estamos terceirizando nossa capacidade cognitiva para os grandes monopólios de tecnologia, que usam nossos dados navegacionais para influenciar diretamente nosso comportamento e nossas escolhas, ao mesmo tempo que destroem a privacidade, a diversidade e a individualidade.

“Embora dê a impressão de que oferece escolhas, o Facebook, de forma paternalista, empurra os usuários na direção que considera melhor para eles, que não por acaso costuma ser a direção que os torna completamente dependentes”

Franklin Foer

Na visão do autor, Google, Amazon, Facebook e Apple ( representados pela sigla “GAFA”), estão reduzindo nossa capacidade intelectual e criativa, nos transformando em entidades abstratas definidas por algoritmos. Foer afirma que não existe democracia, nem liberdade de expressão, já que algoritmos decidem qual notícia devemos ler, qual produto devemos comprar, quais amigos devemos nos aproximar e até em quem devemos votar.

Com um linguagem simples a acessível a todos os públicos, Foer faz um apanhado histórico das bases do jornalismo imparcial e informativo, até o surgimento das práticas de lobby governamental na era pré-internet, passando pelo surgimento da web e finalizando com o estado atual.

“A profusão de dados mudou a natureza do jornalismo, que foi transformado em mercadoria, em algo a ser negociado, testado e calibrado”

Franklin Foer

Em alguns momentos o autor parece mais um jornalista frustrado, que não se adaptou a nova realidade imposta pela revolução tecnológica, sendo sufocado por ela. Entretanto, ao fazer uma leitura mais crítica, é possível concordar com a grande maioria das posições de Foer.

Recomendo a todos que querem entender como a internet está presente em nossas vidas, muito além do que possamos imaginar.

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!