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Como as foodtechs podem transformar o setor alimentício

Como as foodtechs podem transformar o setor alimentício

Seguindo o mesmo conceito de fintech (serviços financeiros) e legaltech (serviços jurídicos) e muitas outras coisas “tech”, inclusive as que ainda irão surgir, as foodtechs usam tecnologia para implementar soluções inovadoras no setor alimentício. Essas soluções incluem, a priori, os aplicativos de entrega de alimentos e as iniciativas de produção de carnes vegetais e/ou feitas em laboratório. Entretanto, o conceito de foodtech vai além, abrangendo toda a cadeia alimentar, desde a produção até o consumidor final.

As foodtechs são fortemente apoiadas pelas tecnologias da informação e comunicação (TICs), fazendo uso de ferramentas que incluem big data (processamento de grandes quantidades de dados), internet das coisas (IoT – conectividade de objetos e sensores à grande rede), softwares e hardwares de automação, inteligência artificial (IA), entre outras coisas. Essas e outras tecnologias apoiam a produção sustentável de alimentos de origem animal e vegetal, contribuindo, por exemplo, para a redução do desperdício, para a reciclagem de embalagens e para a comunicação direta entre produtores e consumidores.

No Brasil, o FoodTech Movement reúne pessoas e organizações engajadas em propor ideias e processos inovadores ao setor alimentício. Em seu site, há uma lista com 14 categorias de serviços de foodtech, sendo elas: 1) logística inteligente; 2) marketplace de alimentos; 3) comida do futuro; 4) reciclagem e desperdício; 5) necessidades do consumidor; 6) agronegócio e marketplace; 7) varejo inteligente; 8) processamento de alimentos; 9) direito do consumidor; 10) transparência alimentar; 11) receitas on-line e food delivery; 12) fazendas inteligentes; 13) segurança alimentar e14) novos sistemas de agricultura. Em todas essas categorias, é possível vislumbrar grandes oportunidades de negócios, considerando sempre o uso das TICs.

Entre as categorias listadas pelo FoodTech Movement, é possível encontrar startups dedicadas ao ultracongelamento, como é o caso da brasileira Liv Up. Ele facilita o armazenamento e a preservação de alimentos, proporcionando pratos congelados que mantêm o sabor e outras propriedades dos alimentos. Essa empresa mantém parcerias com pequenos agricultores, priorizando alimentos 100% orgânicos na produção dos seus kits e pratos. No site da empresa, é possível fazer pedidos on-line em uma área de atuação ainda discreta, limitada a algumas cidades e alguns estados.

“As foodtechs deverão desenvolver um importante papel na produção e consumo de alimentos, melhorando processos, reduzindo custos e diminuindo o desperdício…”

Uma outra startup que merece destaque é a chilena NotCo, que desenvolveu um algoritmo de aprendizagem de máquina (machine learning) para sugerir substitutos vegetais para ingredientes de origem animal. O primeiro produto da empresa, batizado de “Not Mayo” (“não maionese”), é uma maionese que tem como principal ingrediente grão de bico em vez de ovo. Em um “teste cego”, 98% dos consumidores não notaram a diferença entre a “Not Mayo” e uma maionese comum, o que atesta a efetividade do algoritmo. Além da maionese, a NotCo usa o algoritmo criado para testar receitas veganas de leite, sorvete, iogurte e carne. Jeff Bezos, o bilionário da Amazon, é um dos investidores dessa jovem startup.

As foodtechs deverão desenvolver um importante papel na produção e consumo de alimentos, melhorando processos, reduzindo custos e diminuindo o desperdício, o que se mostra como uma necessidade. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), somos uma das nações que mais desperdiçam alimentos, atingindo a média de 26,3 milhões de toneladas por ano. Além disso, até 2050, de acordo com a mesma organização, a produção de alimentos deverá crescer cerca de 70% para conseguir suprir a demanda de cerca de 9 bilhões de pessoas.

Acredito que o Brasil tem um grande potencial no universo das foodtechs, considerando que estamos entre os principais produtores de carne e grãos do mundo e que as maiores multinacionais do setor alimentício se encontram aqui. É imprescindível, nesse contexto, que todas as partes da cadeia do alimento promovam ações sustentáveis de produção e consumo.


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 03/11/2019 .

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!