A geração Z no mercado de trabalho: o que esperar dos “nativos digitais”?
Os jovens da geração Z, nascidos entre 1995 e 2009, são chamados por muitos de “nativos digitais”, visto que, diferentemente das gerações anteriores, não vivenciaram um mundo “desconectado”, sem mídias sociais e sem smartphone. De fato, a geração Z nasceu em um período em que as tecnologias de informação e comunicação (TICs) já haviam alcançado a ubiquidade. Isso quer dizer que, assim como a energia elétrica, as TICs já estavam imperceptivelmente em todos os lugares, causando grandes mudanças culturais, sociais e econômicas em todo o mundo. Como exemplo disso, podemos citar a geração Z, que possui hábitos e comportamentos moldados pela alta disponibilidade da internet, pelas tecnologias e dispositivos que permitem acesso à grande rede. Essa geração chega ao mercado de trabalho com uma carga cultural e valores muito diferentes daqueles a que o mundo corporativo está acostumado. O que podemos esperar?
Os jovens da geração Z possuem uma cultura digital muito forte. Isso significa que, além de compreender as tecnologias modernas, eles conseguem usá-las para obter vantagens competitivas nos mais diversos contextos. Por isso, normalmente conseguem antecipar, improvisar e simplificar uma série de situações-problema.
No mundo corporativo, características como raciocínio rápido, criatividade e adaptabilidade são diferenciais para qualquer profissional, sempre considerando fatores qualitativos. Um outro ponto positivo da geração Z é que ela é altamente inclusiva, visto que consegue transitar entre diferentes comunidades, correntes de pensamento e ideologias.
Entretanto, não há apenas vantagens. Uma das questões discutidas é que esse perfil “altamente digital” não é adequado a algumas funções e culturas organizacionais firmadas em processos não muito flexíveis e que exigem certa burocracia. Em cenários rígidos e burocráticos, esses jovens podem se desmotivar facilmente devido à sua típica impaciência e dificuldade de lidar com frustrações e incertezas.
“…o perfil “multitarefa” da geração Z pode comprometer a qualidade dos seus serviços, trazendo uma série de transtornos para a organização”
Uma outra questão é que o perfil “multitarefa” da geração Z pode comprometer a qualidade dos seus serviços, trazendo uma série de transtornos para a organização. Há diversas funções que exigem foco e muita concentração, algo não muito comum em um “nativo digital”, acostumado a executar diversas tarefas ao mesmo tempo, sempre flertando com a superficialidade.
Assim, considerando que o mercado atual exige cada vez mais profissionais de altíssima performance e que também respeitem os valores e a cultura das organizações, há quem questione se a geração Z está preparada para o mercado de trabalho ou se o mercado está preparado para geração Z.
Em uma matéria publicada no dia 15 de outubro de 2019 no portal da revista Forbes, intitulada “Gen Z At Work – 8 Reasons To Be Afraid” (Geração Z no trabalho – 8 razões para ficar com medo), o psicólogo Jonathan Haidt faz algumas ponderações acerca dessa geração no trabalho, principalmente ao empresário. Ele destaca que é necessário deixar claro quais são as normas e os valores da organização, mesmo que vão contra as crenças dos “nativos digitais”.
“…é necessário deixar claro quais são as normas e os valores da organização, mesmo que vão contra as crenças dos “nativos digitais”.
Haidt também recomenda nunca pedir desculpas pelos valores da empresa, visto que os novos contratados devem colocar as necessidades da organização acima de suas próprias preocupações. Por mais que existam diferenças, sejam elas políticas ou ideológicas, dentro da organização todos devem comportar-se como um time com um objetivo muito bem definido. Como líder, é revelador e motivador ser desafiado por um “nativo digital”, porém é necessário gerenciar essas situações, sempre lembrando a este o significado de respeito e hierarquia. Haidt também sugere que, antes e depois da contratação, o setor de recursos humanos deve ficar de olho nas redes sociais dos jovens colaboradores. Isso pode ser decisivo na contratação ou demissão.
Diante do exposto, acredito que a geração Z tem um potencial enorme para transformar o mercado de trabalho com sua criatividade, raciocínio rápido, cultura digital e empatia. Entretanto, esses jovens precisam de um direcionamento, para que grandes talentos não se tornem apenas problemas e “eternas promessas”.
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 27/10/2019 .