O fim dos smartphones
Uma pesquisa feita em 2013 pelo International Data Corporation (IDC) mostrou que no segundo trimestre daquele ano as vendas de smartphones ultrapassaram pela primeira vez as vendas de feature phones (celulares básicos) no Brasil. Desde então, os números não pararam de crescer. De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em abril de 2018, há mais de um smartphone por habitante no país. De fato, os dispositivos móveis, principalmente os smartphones, revolucionaram o conceito de conectividade e acesso à informação, trazendo uma série de transformações que vão além do âmbito tecnológico. Entretanto, pesquisas globais realizadas pelo IDC revelam um futuro de oscilações e crescimento modesto. O que isso significa? Saturação e mudanças no mercado ou os smarphones “já deram o que tinham que dar”?
Segundo pesquisa realizada pela Hyla Mobile (2018), se antes o consumidor médio demorava cerca de dois anos para adquirir um novo smartphone, hoje ele demora cerca de três. Esse “aumento da vida útil” do dispositivo está ligado principalmente a dois fatores: o aumento dos preços e a falta de inovações. A cada ano que passa os dispositivos ficam mais caros, porém com poucas inovações. Quando foi lançado em 2007 em uma emblemática apresentação feita pelo guru Steve Jobs, o iPhone foi considerado uma tecnologia disruptiva, isto é, que rompeu com os padrões já estabelecidos pelo mercado, causando uma grande transformação e iniciando de vez o mercado de dispositivos móveis. Entretanto, se considerarmos os últimos anos, as mudanças nos tablets e smartphones foram apenas incrementais, apenas aumento da capacidade do hardware.
O que difere um smartphone de entrada que custa algo em torno de R$400,00 de um top de linha que pode chegar a custar até R$8.000,00? Em termos práticos, nada. Todos os modelos possuem o básico: fazem ligações, tiram fotos, instalam aplicativos, possuem conectividade (bluetooth, 4G e WiFi), além de GPS. É obvio que se você quiser mais capacidade de processamento, armazenamento e melhor qualidade nas fotos, você deverá pagar mais caro. Mesmo assim, ignorando-se o fator experiência do usuário, na prática, todos os dispositivos são “iguais”.
“O que difere um smartphone de entrada que custa algo em torno de R$400,00 de um top de linha que pode chegar a custar até R$8.000,00? Em termos práticos, nada”
Diante desse cenário, muitos especialistas afirmam que os smartphones já alcançaram o ponto máximo das inovações. Segundo a futurista Amy Webb, professora da universidade de Nova Iorque (NYU), esses dispositivos deverão ser substituídos aos poucos por novas tecnologias que já despontam no horizonte. Além de Webb, empresas como a Ericsson acreditam que a interação com um único dispositivo continuará a existir, porém a comunicação deverá se dar predominantemente por comandos de voz. Tecnologias de conexão como o 5G, os assistentes pessoais, como o Google Assistant e o Amazon Alexa, além da Inteligência Artificial (IA), deverão ser os catalizadores dessa grande mudança.
Segundo a Ericsson, por mais simples que possa parecer, as interfaces com telas sensíveis ao toque demandam foco total, o que pode minar a produtividade em diversos cenários, além de dificultar a vida do usuário quando ele está dirigindo, por exemplo. Assim, os dispositivos vestíveis (wearable devices), como os relógios (smartwatches) e os óculos inteligentes (smart glasses), deverão ganhar popularidade nos próximos anos, causando profundas mudanças no mercado de dispositivos móveis. Mesmo com a polêmica em torno da privacidade que enterrou projetos como o Google Glass, os óculos inteligentes deverão surgir em algum momento, fornecendo uma nova dinâmica de interação com o usuário, dispensando telas e toques de uma vez por todas.
“Os dispositivos vestíveis deverão ganhar popularidade nos próximos anos, causando profundas mudanças no mercado”
Diante do exposto, podemos afirmar que estamos caminhando a passos largos em direção a mais uma grande revolução tecnológica: a computação ubíqua (onipresente). No futuro imaginado pela ficção e pelo cientista da computação Mark Weiser, a interação humano-computador se dará de maneira invisível, por meio de comportamentos e ações naturais das pessoas. O iminente fim dos smartphones está sugerindo que o futuro já está acontecendo.
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 17/03/2019.