Os impactos da Internet das Coisas no trânsito e nos transportes
A revolução que a Internet das Coisas (IoT – Internet of Things) está causando em nosso cotidiano é um dos assuntos mais debatidos por especialistas nos últimos anos. Em resumo, a IoT propõe a conexão de qualquer tipo de coisa à internet, mesmo aquilo que em um primeiro momento possa não parecer útil em termos de conectividade, como um travesseiro, um aparelho de ar-condicionado e até mesmo um vaso sanitário. Imagine agora casas, carros, lojas e milhões de dispositivos interconectados via internet trocando e processando dados em tempo real. As aplicações são infinitas!
Segundo estudo realizado pela Intel, até o fim de 2020, o mundo terá cerca de 200 bilhões de dispositivos conectados à grande rede, algo em torno de 26 dispositivos para cada ser humano. O mesmo estudo também destacou números da utilização da IoT em diversos setores da economia. Atualmente a maior parte dos dispositivos (40,2%) está concentrada nos negócios e na manufatura. O restante está na saúde (30,3%), no comércio varejista (8,3%), na segurança (7,7%) e nos transportes (4,1%).
As principais aplicações do setor de transportes envolvem veículos autônomos, monitoramento e controle de tráfego e outras aplicações que estão intimamente ligadas ao conceito de cidades inteligentes (Smart City). De acordo com Allied Market Research, em 2016 o mercado de IoT nos transportes era de 135 bilhões de dólares e deverá ultrapassar 328 bilhões até o fim de 2023.
” Considerando que no futuro grande parte dos veículos serão autônomos, muitas pessoas não necessitarão possuir um, visto que ele poderá ser um bem compartilhado”
A aplicação da IoT no transporte, principalmente nos grandes centros urbanos, trará grandes benefícios à população. Veículos autônomos que “conversam” com cidades inteligentes (sensores espalhados pelas vias) e acessam dados de mapas e vídeo em tempo real poderão otimizar o tráfego de diversas maneiras, além de reduzir o número de acidentes, salvando milhares de vidas. Os semáforos, por exemplo, poderão ser ajustados dinamicamente de acordo com o fluxo das vias, evitando engarrafamentos e lentidão no tráfego. Em caso de acidentes, que normalmente impedem temporariamente uma ou mais vias, a cidade poderá avisar aos veículos para evitar aquela rua ou avenida. Outra aplicação possível é o assistente de estacionamento que, além de fazer com que o veículo estacione sem interferência humana, indicará a melhor vaga para que o usuário estacione o mais próximo do local desejado.
E as possibilidades não param por aí. Há empresas que estão estudando a possibilidade de implantar um conceito intitulado de TaaS (Transportation as a Service – Transporte como serviço). Considerando que no futuro grande parte dos veículos serão autônomos, muitas pessoas não necessitarão possuir um, visto que ele poderá ser um bem compartilhado. Assim, um veículo poderá suprir a necessidade de dezenas de pessoas durante o dia simplesmente alternando o seu horário de utilização. Isso significa que depois de deixar o usuário no trabalho, o mesmo veículo poderá seguir viagem para pegar outros trabalhadores e fazer entregas, por exemplo. É a “uberficação” total dos transportes ajudando a reduzir a poluição nas grandes cidades, impactando o mercado automotivo e mudando drasticamente o mercado de seguros de automóveis.
Considerando os benefícios da IoT e o advento da nova tecnologia de comunicação 5G, estamos preparados para aplicá-la nos transportes. Entretanto, apesar de vislumbrar um futuro impressionante, principalmente sob o ponto de vista sustentável, será necessário enfrentar diversos desafios. O primeiro deles diz respeito ao custo, visto que a adoção em massa de dispositivos de conectividade considera grandes mudanças nas infraestruturas física e tecnológica das cidades. Ademais, os veículos autônomos não deverão ser colocados em operação em breve, visto que precisam passar por diversos estudos, testes e, obviamente, pela burocracia estatal.
Apesar dos pesares, o caminho para a IoT nos transportes já está pavimentado. E quando temos empresas do calibre da IBM e da Google interessadas, podemos ter a certeza de que as coisas já estão acontecendo. Estamos preparados?
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 10/03/2019.