Hi Score Girl – games, romance e nostalgia.
A Netflix disponibilizou em seu catálogo a série animada que remete a era de ouro dos arcades e dos consoles de 8, 16 e 32 bits. Trata-se de Hi Score Girl, um romance protagonizado por dois adolescentes com personalidades e estilos de vida bem diferentes, mas com uma coisa em comum: o amor pelos video games.
A obra original, um mangá seinen de comédia romântica que usa a cultura gamer dos anos 1990 como pano de fundo, é assinado por Rensuke Oshikiri e publicado pela Square Enix entre 2015 e 2018.
O enredo
A primeira temporada retrata os anos de 1991 a 1995 e destaca a cultura dos games para fliperamas (arcades), principalmente o icônico Street Fighter II. Haruo Yaguchi é um adolescente que ama videogames e, além de ter um console Turbo Grafx 16, é um “estudioso” da área e frequentador assíduo de bares e lojas que possuem fliperamas. Um verdadeiro “gamer raiz”.
Durante uma de suas jogatinas de rotina em uma grande loja de fliperamas, Yaguchi se depara com algo que certamente era a fantasia máxima de todos os jovens gamers da época, inclusive eu: uma menina gamer. Trata-se de Akira Ono, uma menina prodígio em todo o que faz, pois, além de ser uma excelente aluna, é também uma habilidosa gamer, capaz de superar as habilidades de Yaguchi. Entretanto, a garota vive uma mundo de cobranças, visto que sua família é muito rica e quer formar uma sucessora para gerenciar sua fortuna. Assim, Ono usa os games como válvula de escape o que a faz se aproximar de Yaguchi.
Apesar da série focar na confusa relação de amor, amizade e rivalidade, além dos encontros e desencontros entre Yaguchi e Ono, outros personagens são decisivos na trama. Destaque para a cômica mãe de Yaguchi e a graciosa adolescente Koharu Hidaka. Esta última é atraída pelos games por meio da devoção de Yaguchi, o que fez com que ela se tornasse uma grande rival e também sua possível affair. Assim, no final da 1ª temporada há a confirmação de um possível triângula amoroso.
História da cultura gamer
Cada episódio é recheado de informações sobre a evolução dos games no início e meados dos anos 1990. Como as primeiras empresas de games surgiram no Japão, os jovens japoneses foram testemunhas oculares do início e da consolidação da cultura dos games, independentemente da plataforma. Assim, clássicos como Street Fighter II, Final Fight, Samurai Shodown, Darkstalkers e Fatal Fury são referenciados a todo momento.
O game Street Fighter II é a especialidade de Yaguchi, tendo o Coronel Guile como seu personagem favorito. Guile é usado para inspirar cenas que certamente arrancarão muitas risadas dos telespectadores. Já Ono é um terror com o Zangief. Seria isso um easter-egg sobre o histórico conflito silecioso entre os EUA e a extinta URSS?
Infelizmente, a Guerra dos Consoles e outros fatos e consoles históricos são deixados de lado para dar mais espaço ao inusitado romance entre Yaguchi e suas “namoradinhas”. Mesmo assim, é possível “pegar” várias referências e fazer uma viagem saudosista aos tempos das fichas e das “tretas” nos bares que tinham fliperamas. Eu mesmo protagonizei várias.
Vale a pena assistir?
Hi Score Girl é inspirado no eterno saudosismo e da eterna nostalgia que todos nós sentimos em vários momentos da vida. Se você não sentiu isso, acredite, ainda vai sentir! A indústria do entretenimento sabe como explorar esse nosso lado comportamental e constantemente tem criado uma série de produtos de mídia com essas temáticas, como games, séries e filmes.
Como eu nasci em 1981 e tive o privilégio de viver o auge da era dos fliperamas na adolescência, período da vida em que somos apresentados a puberdade, além de enfrentar nossa crise de identidade e ter os primeiros interesses amorosos. Assim como Yaguchi, eu era frequentador assíduo de game-locadoras e lojas e bares que tinham fliperamas.
É impossível não se identificar com o protagonista, além de ficar extasiado com as cenas em que ele está diante de um desafio gamer. A carga nostálgica dessas cenas são superadas apenas pela torcida que fazemos para que ele se acerte com uma das garotas, Ono ou Hidaka. É impossível não se apaixonar pelas duas!
Por ser uma comédia romântica, o anime aborda a relação entre os protagonistas e as suas “namoradinhas” de uma maneira bem humorada e, principalmente, inocente. Assistindo os episódios me senti um adolescente, o último dos românticos, um verdadeiro poeta!
O fim da primeira temporada é surpreendente e, ao mesmo tempo, conseguiu me deixar tão ansioso para a próxima quanto na semana da estreia de Vingadores: Guerra Infinita. Se você já passou dos 30 e, assim como eu, é adepto da cultura retrogamer, não deixe de assisistir. Vale a pena!