O legado tecnológico da Copa 2018
A cada nova edição da Copa do Mundo de Futebol, surgem novos recursos tecnológicos com objetivos que vão além da transmissão dos jogos e divulgação de notícias e estatísticas. Na Rússia, uma série deles foi apresentada e testada, desde a bola Telstar até o implacável árbitro de vídeo. Este último foi decisivo em diversas ocasiões, inclusive na finalíssima entre França e Croácia, jogo que marcou o segundo título mundial dos franceses. Neste texto, discutirei dois dos principais recursos usados pela arbitragem: o árbitro de vídeo (VAR, do inglês Video Assistant Referee) e a tecnologia da linha do gol (GLT, do inglês Goal Line Technology).
Logo na primeira rodada, no dia 16 de junho, a partida entre França e Austrália entrou para a história ao ficar marcada pela utilização de tecnologias, consolidando a vitória francesa por 2×1. Aos 9 minutos do 2º tempo, o meia francês Paul Pogba lançou o atacante Antoine Griezmann, que invadiu a área e caiu ao ser atingido por um defensor australiano. O árbitro uruguaio Andrés Cunha não viu falta, mas, ao ser acionado pela equipe da arbitragem de vídeo, parou o jogo, analisou o lance em uma TV na beira do campo e anotou pênalti a favor da equipe francesa. O atacante Griezmann bateu e converteu abrindo o placar. Aos 36 minutos do 2º tempo, após o empate australiano, o francês Pogba dividiu uma bola na entrada da área australiana, que bateu no travessão e tocou o chão próximo à linha do gol. Novamente um recurso tecnológico foi usado para validar o lance, dessa vez em tempo real. Trata-se do GLT, recurso que se apoia em câmeras apontadas para os gols e em um dispositivo preso no pulso do árbitro, que recebe um sinal indicando se a bola ultrapassou ou não a linha do gol.
“Conhecido simplesmente como VAR, o árbitro de vídeo é defendido com fervor pela FIFA, a entidade máxima do futebol e organizadora da Copa. Mas, será que ele tem o poder de deixar o futebol mais justo?”
Conhecido simplesmente como VAR, o árbitro de vídeo é defendido com fervor pela FIFA, a entidade máxima do futebol e organizadora da Copa. O recurso pode ser acionado em quatro ocasiões: 1) gol; 2) pênalti; 3) cartão vermelho; 4) identificação do atleta em casos de indisciplina. Assim, diante de uma série de câmeras capazes de enxergar praticamente tudo o que acontece durante as partidas, a tendência é que os atletas evitem comportamentos antiesportivos, melhorando a qualidade técnica das partidas. Outra vantagem do VAR, segundo a FIFA, é que o tempo gasto para a validação do lance não compromete nem 2% do tempo de bola em jogo. Todavia, são necessários mais estudos em competições futuras para realmente atestar a viabilidade técnica e financeira do recurso. O VAR foi decisivo também na final, sendo responsável por validar o pênalti que originou o 2º gol francês.
Um dos lances mais controversos do VAR aconteceu na partida entre Brasil e Costa Rica no dia 22 de junho. O atacante Neymar foi puxado dentro da área aos 32 minutos do 2º tempo por um defensor costarriquenho e caiu. Em um primeiro momento, o árbitro holandês Bjorn Kuipers marcou pênalti. Entretanto, após analisar o lance com a ajuda do VAR, o árbitro voltou atrás. Há quem diga que realmente foi pênalti, mas, devido à reação exagerada do atacante brasileiro, tão notória no vídeo, o árbitro mudou sua perspectiva e anulou o pênalti. Isso sugere que o VAR não é infalível?
Polêmicas à parte, o fato é que houve uma considerável redução do número de cartões vermelhos, apenas dois em toda a competição. Ademais, houve um considerável aumento no número de pênaltis marcados. Em 2014 foram 13, já em 2018 foram 29. Destes, 13 foram anotados depois da utilização do VAR.
De fato, o legado tecnológico da Copa 2018 influenciará as futuras competições no Brasil e no mundo, trazendo mais justiça e reduzindo os erros de arbitragem. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) já estuda a possiblidade de aplicar o VAR no campeonato brasileiro no futuro. Será que finalmente o futebol começará a ficar mais justo?