Por que (ainda) caímos em golpes via internet?
De acordo com o IBGE (2016), cerca de 67% da população brasileira com idade acima de 10 anos possuem acesso à internet. Isso equivale a mais ou menos 116 milhões de pessoas. Um número extremamente significativo nos mais diversos aspectos, mas que também revela um grave problema: o crescente número de vítimas de crimes praticados por meio da grande rede. Somente em 2017, 62 milhões de pessoas foram vítimas de algum tipo de golpe via internet, o que representa um crescimento de 68,4% se comparado com 2016, em que foram estimados 42,4 milhões de vítimas. Esses números sugerem uma pergunta: por que (ainda) caímos em golpes pela internet? Não temos informações suficientes? Somos ignorantes? A resposta envolve muitos fatores, desde questões técnicas até psicológicas. Acredite, os cibercriminosos sabem explorar muito bem esses dois aspectos.
Diante dos modernos e quase que instransponíveis sistemas de segurança dos dias atuais, é praticamente impossível para um cibercriminoso conseguir acesso a dados bancários e outros tipos de contas de um usuário utilizando apenas meios técnicos. Sendo assim, são necessários meios alternativos, capazes de explorar as vulnerabilidades psicológicas dos usuários. Como já mencionado em outros textos nesta coluna, a engenharia social (manipulação psicológica) é um dos principais meios utilizados pelos cibercriminosos, principalmente quando a vítima é leiga no que diz respeito à utilização de tecnologias. Entretanto, segundo diversos relatos de vítimas, nem um alto nível de instrução e/ou um sólido conhecimento na área de tecnologia são capazes de evitar os golpes.
Os cibercriminosos sabem usar os diversos recursos tecnológicos para obter dados das vítimas que, quase sempre, não fazem questão da privacidade on-line, revelando dados e até padrões comportamentais e de localização nas redes sociais. Certamente, esses dados são importantes para as estratégias dos criminosos, porém, eles vão muito além, conseguindo enganar até os mais cuidadosos, bem informados e paranoicos usuários da internet.
“Ganância por dinheiro fácil, fantasias dos mais diversos tipos, necessidades financeiras, vaidade e prazer no mistério e na exclusividade são apenas alguns dos fatores que os criminosos exploram.”
Desconheço estatísticas que mostram quais são os fatores comportamentais que mais contribuem para que as pessoas caiam em golpes pela internet. Mas, de acordo com alguns relatos das vítimas, posso imaginar vários deles. Ganância por dinheiro fácil, fantasias dos mais diversos tipos, necessidades financeiras, vaidade e prazer no mistério e na exclusividade são apenas alguns dos fatores que os criminosos exploram. Outros fatores têm um poder de persuasão ainda maior, como: a) autoridade– supostas mensagens oficiais de marcas e pessoas famosas que atestam a proposta ou produto; b) escassez– o prazo limitado da proposta força a vítima a tomar uma atitude sem raciocinar direito; c) prova social– montagens com imagens, áudio ou vídeo com supostas pessoas que aceitaram a proposta e se deram bem; d) reciprocidade– problemas, objetivos ou conhecimentos em comum costumam gerar aproximação e confiança entre as pessoas.
Os fatores autoridade e reciprocidade expressam claramente alguns dos comportamentos humanos mais marcantes, portanto são capazes de fazer vítimas com altíssimo grau de instrução. Quem não se sentiria intimidado a obedecer um suposto e-mail da Polícia Federal pedindo para confirmar dados pessoais e bancários? Quem não se sentiria à vontade para se abrir com pessoas que possuem os mesmos problemas? Não se engane, os criminosos sabem como explorar essas “brechas emocionais”.
Enfim, a informação e o conhecimento ainda são as melhores armas para combater os golpes praticados pela internet. Informe-se, não mantenha contato com desconhecidos e procure validar pessoas, informações e propostas, enfim, tudo o que chega até você deve ser confirmado de alguma forma alternativa. Finalmente, esteja atento a tudo o que apela para os fatores comportamentais citados aqui. Cuidado!
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales – coluna Fatecnologia – no dia 01 de julho de 2018.