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A falta de leitura e a sociedade da desinformação.

A falta de leitura e a sociedade da desinformação.

Sempre que surge uma nova tecnologia, seja ela hardware ou software, é muito comum nos depararmos com entusiastas e especialistas anunciando uma “nova era”, um paraíso tecnológico cheio de oportunidades e facilidades que antes não existiam ou eram extremamente restritas. Como podemos observar nos últimos anos, é óbvio que uma nova tecnologia tem o poder de mudar hábitos, valores e comportamentos. Entretanto, é necessário deixarmos essa visão “romântica” em torno das novidades tecnológicas e analisarmos criticamente se tais mudanças são sempre positivas.

Criada no final da década de 1980 pelo físico britânico Tim Berners-Lee, a Web é considerada uma das maiores invenções da história. Trata-se de uma rede mundial de documentos hipermídia (texto, som, imagem, vídeo e interatividade) vinculados entre si que disponibiliza quase todo o conhecimento da humanidade e, em sua essência, de maneira gratuita. No Brasil, segundo o IBGE (dados de pesquisa de 2016), há cerca de 120 milhões de pessoas conectadas à internet e, obviamente, com acesso à web.

Paradoxalmente, diante de inúmeros recursos tecnológicos que proporcionam acesso quase que irrestrito à informação e ao conhecimento, infelizmente ainda temos que lidar com um considerável número de analfabetos funcionais no Brasil, que é cerca de 27% da população, de acordo com o Instituto Paulo Montenegro (2016). Esse número representa uma considerável melhoria, visto que, em 2003, chegamos a vergonhosos 38%. Entretanto, a percepção que tenho após 10 anos como professor de cursos técnicos e superiores é de que essa suposta evolução não existe. O analfabeto funcional, apesar de saber ler e escrever, é incapaz de interpretar textos simples e fazer operações matemáticas básicas, problemas facilmente detectáveis pelos professores mais atentos.

Ao trocar o livro, ou outra forma de leitura, por uma celebridade do Youtube, que, em sua grande maioria, nos traz conhecimentos superficiais e, muitas vezes, tendenciosos, estamos rompendo o relacionamento com um legado cultural acumulado pelos livros durante séculos.

No Brasil, a era digital chegou sem que tivéssemos semeado a cultura do livro.  Dados da pesquisa “Retratos da Leitura” do Instituto Pró-Livro de 2016, apontam que cerca de 45% da população não tem hábito de leitura. Do total desses, 32% afirmam que não leem por falta de tempo e 28% porque simplesmente não gostam de ler. A leitura sempre foi instrumento para reflexão, imaginação, domínio da linguagem e fortalecimento do senso crítico. Entretanto, como professor, percebo que os nossos jovens estão trocando os livros pelos sites, blogs, canais do Youtube e seus respectivos influenciadores digitais.

Ao trocar o livro, ou outra forma de leitura, por uma celebridade do Youtube, que, em sua grande maioria, nos traz conhecimentos superficiais e, muitas vezes, tendenciosos, estamos rompendo o relacionamento com um legado cultural acumulado pelos livros durante séculos. Isso é muito sério se considerarmos a formação de uma fluência leitora e, consequentemente, cidadãos mais críticos. Vivemos em uma sociedade da desinformação?

Como profissional e professor de tecnologia, não sou contra a utilização de meios diversos para a aquisição do conhecimento. Todavia, é necessário entendermos que a leitura deve ser o mais importante, visto que os benefícios vão além do aspecto intelectual. A leitura estimula o funcionamento da memória, aprimora as capacidades interpretativas e de escrita, aumenta o vocabulário, mantém o raciocínio ativo, combate o stress e a ansiedade, além de proporcionar um conhecimento mais profundo e diversificado. Ler faz bem para a alma!

Como diz Severino Francisco, jornalista e editor do jornal Radcal, “O livro permanece uma tecnologia de ponta, a ser não apenas preservada, mas integrada e articulada com as outras tecnologias de comunicação e de arte”.


Texto publicado originalmente no Jornal de Jales – coluna Fatecnologia – no dia 20 de maio de 2018.

Jorge Luís Gregório

Jorge Luís Gregório

Professor e entusiasta de tecnologia, estudioso da cultura NERD e fã de quadrinhos, animes e games. Mais um pai de menino, casado com a mulher mais linda da galáxia e cristão convicto. Gosto de ler ficção científica e discutir tecnologia, filmes, seriados, teologia, filosofia e política. Quer falar sobre esses e diversos outros assuntos? Venha comigo!