Carteiras eletrônicas e o fim do dinheiro impresso.
Desde a criação dos cartões de crédito, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) causaram muitas transformações na economia. O surgimento dos sistemas de pagamentos via internet, das moedas digitais (como o bitcoine o litecoin) e das fintechs(empresas que prestam serviços financeiros apoiando-se nas TICs – algumas nem possuem agências físicas) estão causando fortes mudanças nos negócios e na maneira como nos relacionamos com o dinheiro. Uma das consequências dessas mudanças é que a cada dia as pessoas utilizam menos o dinheiro físico. Assim, surge a tecnologia conhecida como eWallet (eletronic walletou carteira eletrônica).
A eWallet é uma tecnologia que permite realizar transações financeiras, principalmente pagamentos, de maneira extremamente simples e rápida. Esqueça os cartões de crédito/débito e o dinheiro físico: basta ter um dispositivo móvel com suporte à tecnologia Near Field Communication(NFC – conexão de proximidade) e um aplicativo específico instalado. Dessa forma, você estará pronto para fazer pagamentos em bares, restaurantes, lojas e outros estabelecimentos que aderiram a essa tecnologia apenas aproximando seu dispositivo a uma “maquininha” específica. A transação é vinculada diretamente ao seu cartão de crédito ou débito, mas sem a necessidade de usá-lo na prática.
Os serviços mais populares que usam essa tecnologia são: (a) Google Pay, disponível para dispositivos Android; (b) o Apple Pay, disponível para iPhone; (c) Samsung Pay, disponível para alguns dispositivos da Samsung. Este último possui uma vantagem sobre a concorrência: é compatível com a tecnologia Magnetic Secure Transmission (MST- Transmissão Magnética Segura). Essa tecnologia conversa diretamente com o sensor magnético presente em todas as máquinas, inclusive as mais antigas, dispensando o uso da tecnologia NFC, que ainda não está presente em todos os dispositivos. Além do NFC e do MST, o Quick Response Code (QRCode – Código de Resposta Rápida) também é uma das tecnologias que podem ser usadas.
“As pessoas não deixarão de utilizar cartões nem o dinheiro físico de uma hora para outra, mas, se pensarmos no longo prazo e nas futuras gerações de consumidores e modelos de negócio, o dinheiro físico possivelmente deixará de existir”
Em relação à segurança, os dados financeiros dos usuários ficam armazenados criptografados no dispositivo e não são transferidos nas transações, ou seja, é gerado um código seguro e único para cada pagamento. Os sistemas também podem requerer a autenticação por impressão digital em alguns dispositivos com sensor biométrico. Sendo assim, no quesito segurança é muito difícil haver algum problema no contexto do sistema. Entretanto, há outros meios que podem comprometer os dados financeiros e os cartões dos usuários, principalmente a engenharia social, isto é, a obtenção de informações confidenciais por meio da enganação e exploração da confiança das pessoas. Caso o usuário perca o dispositivo, ele poderá facilmente ser bloqueado usando um serviço on-line do fabricante ou do sistema operacional.
Apesar de ser uma tecnologia robusta e com muitas vantagens, ainda temos um longo caminho até a popularização das eWallets, principalmente por questões culturais. As pessoas não deixarão de utilizar cartões nem o dinheiro físico de uma hora para outra, mas, se pensarmos no longo prazo e nas futuras gerações de consumidores e modelos de negócio, o dinheiro físico possivelmente deixará de existir no futuro.
O deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG) propôs o fim do dinheiro em espécie no Brasil por meio do Projeto de Lei 48/2015. Os argumentos do parlamentar são o combate ao crime organizado, à lavagem de dinheiro e à sonegação de impostos, além da possibilidade de rastrear transações financeiras que envolvam propinas e do fim dos arrombamentos em caixas eletrônicos. Entretanto, tal medida é considerada polêmica, visto que sugere o total controle da liberdade econômica pelo Estado. Sendo assim, é necessário um profundo estudo sobre a viabilidade técnica e outras questões democráticas do projeto que ainda é discutido e não tem previsão para ser votado.
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales – coluna Fatecnologia – no dia 29 de abril de 2018.