Uso do celular ao volante: um hábito perigoso e irresponsável.
Há alguns dias, eu estava transitando pela cidade de Jales por volta das 17h na Avenida João Amadeu, sentido Jales Clube, quando parei no semáforo próximo ao cruzamento da linha férrea, e a traseira do meu veículo foi levemente tocada por um outro veículo. Lembro-me que, quando parei no sinal vermelho, como de costume, olhei para o espelho retrovisor a fim de verificar os veículos próximos. Foi quando percebi que atrás de mim um se aproximava lentamente, quase parando, e o seu motorista alternava sua atenção entre o trânsito e algo que segurava em suas mãos. Percebi isso porque ele olhou rapidamente por duas vezes (acho) para baixo. Quando senti o toque, assustei-me e acionei a buzina. Foi quando ele me olhou com um rosto assustado, revelando o smartphone em uma das mãos. Foi apenas um leve toque, mas poderia ter sido algo pior se estivéssemos em uma rua ou avenida mais movimentada e, principalmente, se o motorista desatento estivesse mais rápido.
Os celulares e smartphones se tornaram indispensáveis em nosso cotidiano, entretanto, há muitos usuários que exageram na utilização, tornando-se totalmente dependentes dessa tecnologia (não apenas profissionalmente), usando-a a qualquer hora e lugar, deixando de lado o bom senso e, principalmente, a responsabilidade. Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego- Abramet, acontece cerca de 150 acidentes fatais de trânsito por dia no Brasil, o que equivale a 54 mil por ano. O que mais surpreende nesses números é que o uso do celular ao volante é a terceira causa dessas mortes. De acordo com o estudo, usar o celular ao volante é mais perigoso do que podemos imaginar. Por exemplo, para atender uma chamada ao volante (considerando que o seu veículo não possui sistema bluetooth integrado com comandos de voz), demoramos cerca de 8 segundos. Se o veículo estiver a uma velocidade de 80 km/h, ele irá percorrer cerca de 2 quadras, dividindo a atenção entre o volante e o celular. Se for uma mensagem de texto, entre ler e responder, o que leva cerca de 20 segundos, teremos percorrido quase 4 quadras totalmente na “escuridão”.
De acordo com especialistas da Abramet, quando usamos o celular ao volante, nossa percepção, visão periférica e o tempo de resposta ficam extremamente prejudicados, fazendo com que aumente consideravelmente o risco de colisões e acidentes fatais. Segundo alguns estudiosos, esses problemas persistem, ainda que em menor intensidade, mesmo se usarmos sistemas com comandos de voz, que nos permitem utilizar o dispositivo sem manuseá-lo. Diante desse crescente problema, alguns fabricantes estudam a possibilidade de criar dispositivos que bloqueiam chamadas e mensagens de textos quando o dispositivo se conecta ao sistema de som do veículo ou detectam altas velocidades por meio de sensores. Isso já é possível via software, entretanto, é opcional, e quase ninguém faz questão de usá-lo. Vale ressaltar que sistemas integrados com comandos de voz não são proibidos segundo a legislação vigente, mas operar o celular ao volante de forma manual é infração gravíssima, com penalidade de 7 pontos na carteira de habilitação e multa de R$293,47.
Quem dirige diariamente sabe que o trânsito é algo muito sério, pois há vidas em jogo. Ser responsável ao trânsito não é apenas uma virtude, é uma obrigação, afinal de contas, quando usamos dispositivos móveis ao volante, colocamos não apenas a nossa vida em risco, mas a de outras pessoas. Acredito que essa modalidade contemporânea de irresponsabilidade no trânsito é mais um fruto do já banalizado “jeitinho brasileiro”. Será que as ligações e mensagens recebidas durante o trânsito são tão importantes que valem a pena colocar em risco a nossa vida e a vida das pessoas? Pense nisso!
Texto publicado originalmente no Jornal de Jales – coluna Fatecnologia – no dia 26 de novembro de 2017.