Vi na Internet, então (não) é verdade.
Há alguns dias, estava navegando no Facebook vendo algumas postagens das fanpages dos grandes portais de notícias quando, de repente, deparei-me com uma postagem aleatória de um dos poucos “amigos” que sigo pela rede social: um cavalo com cabeça de tubarão que continha os dizeres: “Vi na internet, então é verdade”. A princípio, não dei importância e rolei a tela, mas, depois, interessei-me pelo post. Tratava-se de mais um “meme”, aquelas figuras virais (que se espalham rapidamente) com cenas geralmente engraçadas que ironizam alguma pessoa, fato ou ideologia. O “cavalo tubarão” (ou seria um “tubarão cavalo”?) estava ironizando um hoax, termo técnico usado para boatos que são difundidos pela internet por e-mails, redes sociais, aplicativos de mensagens e outros meios digitais. Sobre o boato em questão, as pessoas estavam compartilhando via Facebook um suposto sorteio que um grande fabricante de veículos estaria realizando. Bastava compartilhar a postagem para automaticamente ser incluído no sorteio de um sedã de luxo. Ao verificar o perfil oficial do fabricante, percebi que não havia sorteio algum, assim, ficou caracterizado mais um hoax ou, propriamente dizendo, mais um boato.
Há alguns meses, durante o clímax das manifestações pró-impeachment, um deputado defensor do governo postou uma foto de uma suposta manifestação de apoio à atual “presidenta”, na qual havia uma enorme concentração de pessoas, todas de vermelho, em frente a um prédio com uma arquitetura incomum para o Brasil. Como suspeitei do cenário da foto, decidi verificar sua origem. Para isso, usei a ferramenta online TinEye (www.tineye.com), que nos permite averiguar a primeira publicação de uma imagem na web. Após o TinEye fazer o seu trabalho, percebi que a imagem era de 2010 e que havia sido tirada na Coréia do Sul durante um jogo da Copa do Mundo daquele ano. Mais que um boato, um sério caso de desonestidade intelectual, pois vários de seus seguidores compartilharam a imagem inserindo legendas provocativas a seus opositores. Recentemente, o mesmo deputado postou uma suposta pesquisa de opinião sobre o governo atual, sem citar a fonte, mostrando um gráfico que totalizava 101%, contradizendo a lógica e os conceitos estatísticos.
À primeira vista, um boato pode até parecer inofensivo, mas, após um olhar técnico e crítico, é possível entender que há diversos perigos. De acordo com a Cartilha de Segurança para Internet, o boato pode: conter links para download de códigos maliciosos e vírus; comprometer a credibilidade de pessoas e empresas citadas na mensagem e a reputação daqueles que a repassam, pois, ao fazer isto, entende-se que estão concordando e validando o seu conteúdo; espalhar informações equivocadas e gerar outros problemas de ordem técnica. Ele geralmente apresenta as seguintes características: afirma não ser um boato; apresenta erros gramaticais e de ortografia; mostra informações alarmantes que apelam ao emocional da vítima; enfatiza que deve ser transmitido para o maior número de pessoas, entre outros.
Antes de postar ou repassar alguma informação, devemos sempre validá-la, isto é, pesquisar as fontes. Há diversos meios para isso, além do uso do bom senso e da lógica. É possível verificar em portais de notícias, sites e perfis oficiais de empresas e pessoas envolvidas se há alguma informação oficial. Os sites e-Farsas (www.e-farsas.com) e Boatos.org (www.boatos.org) são mantidos por jornalistas e outros profissionais independentes que investigam e desmentem muitos boatos que são propagados via internet. Vale a pena visitá-los. Então, lembre-se, se você viu na internet, talvez não seja verdade.
Esse texto foi publicado originalmente no Jornal de Jales, coluna Fatecnologia, no dia 19 de junho de 2016.